quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Palavras de uma mente insana















Era uma vez um garoto, um lugar, e o mundo. Antes, ele pensava que Deus realmente tinha barba grande e branca, um cajado na mão e um trono no céu. E lá de cima, ele apontava os erros dos que residem aqui em baixo. Mas o menino se enganara. O tempo passou, e sua noção do que seria Deus, mudou por completo. Descobriu que Deus não está em cima, em baixo, nem só em um lugar. É muito mais difícil achar algo que esteja perto de você, pois justo ali, é aonde não se pensa em procurar. Com muita dificuldade, o menino teve que aceitar que Deus estava dentro dele e o que seus olhos viam, também era Deus. O garoto ficou assustado, e num surto, preferiu ignorar a existência de Deus. Segundo ele, Deus existe dentro de cada um de nós, porém, o Deus que está dentro dele, é ignorado por completo, e quando surge alguma possibilidade de uma crença maior, um conflito interior é gerado, e com golpes e feridas, esmaga-se o Deus que ali dentro, deveria existir são e salvo.
Esse menino talvez fosse tolo. Com certeza era. Mas para ele, fazia tanto sentido pensar de tal maneira. Para ele, a fé era inútil. Pois tratava-se de uma ilusão. Um apego a algo superior, mas que não mudaria os resultados dos problemas das pessoas. Porque como descrito, esses problemas são das pessoas. Estupidamente falando, era como se esperasse que a soma de "dois com dois" desse um resultado diferente de quatro. A fé não servia para nada. E da mesma forma, Deus também não. Deus apenas existia, e a única coisa que causava indagações era isso. A existência de algo que está dentro dele, mas não fala com ele. Que está a volta dele, mas não fala com ele. E ainda hoje, ele ignora Deus. Mas Deus, continuamente tenta lhe mostrar que o que ele procura alucinadamente ao seu redor, está dentro dele, e mais vivo do que nunca.
Acho que esse garoto precisava de companhia, não de amigos, não de parentes, não da família. Pois essas companhias, ele já possuia, e era agradecido por isso. Mas tinha que existir algo que lhe fizesse ver que Deus vive. Era necessário tocá-lo com um sentimento doloroso e pacífico. Era necessário tocá-lo com o amor. Esse sentimento é sem definição, pois é a fusão do que há de bom, com o que há de não tão bom. Na verdade, nem sei porque todos necessitam tanto dele.Acho que é porque ele é Deus.
Então, quando menos esperava, surgiu na vida desse menino, uma pessoa. Pessoa essa, que acabou por se tornar parte da vida dele. E de uma maneira que essas palavras tornam-se inúteis pra dizer, existia um medo terrível de que esse pedaço de sua vida, tivesse que deixa-lo. Era necessário ter aquele amor todos os dias, ao seu lado. A saudade que o corroia na ausência dela, era de um tamanho maior que o próprio mundo, mas a vergonha de dizer isso, era quase do mesmo tamanho. Tinha um tal de espaço, espaço esse que cada um deles deveria ter o seu. Mas o menino não via sentido naquilo, e acabava amando mais ela, do que seu próprio espaço. Lamentável era ter que existir esse espaço, quando o que ele mais desejava era a junção deles, e um só espaço pertenceria a ambos. O espaço dele, seria o dela. Esse espaço não era um espaço material, era um espaço meio abstrato, espaço onde cada um teria sua parte da vida, reservada somente para si. Mas parecia que o menino já teve muito seu espaço, já o teve por muitos anos, já o teve por muito tempo. Para ele, estava na hora de diminuí-lo. Mas que dó dava, quando esses espaços os separava. Mesmo que por algumas horas, mesmo que por um ou dois dias. O menino jurava que não fazia força para sentir o que sentia, e quanto mais tentava fugir, algo o puxava, mais forte que antes. Que medo lhe dava, ele arregalava os olhos, e via-se nela por um instante. Espera, "via-se nela por um instante." E o instante perdurou, virou constante, se congelou. Apavorado, ele ignorava por dentro, esse sentimento que lhe deixava amedrontado. Mas que medo, que medo que isso se vá, não a aflição, mas a paz, o gosto doce, o açúcar que se esconde por trás dessa insegurança, desse medo, dessa aflição.
Lamentava-se. O menino se lamentava, pois essa confusão interna acabava por ser ridícula, acabava por ser o ridículo propriamente dito. Ao menos era isso que o menino achava. Dava pra ver nos olhos dele todas essas palavras. Era possível concordar, que ele realmente se achava um ridículo por ter lá por dentro esses sentimentos. Que ridículo! Exclamava ele, para ele mesmo.
Mas mesmo assim, mesmo sentindo essas coisas não tão boas, ele notava uma paz, uma respiração calma, um olhar vidrante e fixo, tudo isso, apontando para o centro de suas emoções e se espalhando igualmente por todo o corpo. E de repente Deus vive para ele. Deus realmente existia! E quando o perguntavam por que Deus existia, ele respondia: "porque eu a amo." E esse Deus nunca vai embora, nunca vai esgotar. Pois antes que a saudade me mate, eu vou lembrar que tem isso que me faz viver, me faz amar.
Esse texto é insano e talvez sem sentido. Mas o que o garoto sentia, jamais foi engano.Veio e ficou. Não saiu dele, não foi embora. Graças a Deus não foi embora. Que isso permaneça para todo o sempre e que jamais, jamais acabe - dizia, e sentia, o garoto. E insanamente ele ama, e a saudade é tão quanto insana, quando de longe se lembra das horas inundadas de paz, de tranqUilidade.
Dessa forma, o garoto percebeu, que entre as dúvidas que apareciam e a princípio pareciam monstruosas, entre essas dúvidas e entre seus medos, ele deveria jogar aos ares todo aquele amor, e respira-lo novamente, pois só quem vive o amor, sabe o que sente.
Que sequem os riachos, derretam as paredes, caiam os telhados, levantem os que tem sede. Que deitem os cansados, sentem os alucinados, percebam os que dormem, que acordem os desacreditados. Nada disso é o fim, pois as paredes sempre serão reconstruidas, os riachos preenchidos pelo mar, os cansados recuperarão as forças, os alucinados vão se curar, e, não só por isso, o amor que ele sentia, nunca, nunca vai acabar. Que coisa! Que maluquice isso! Mas é verdade! Que palavras sem noção, que coisa de tonto! Chega! Já que não se pode medir esse amor, e cansado de isso tentar, esse menino agora se despede e vai se deitar.