domingo, 29 de março de 2009

A construção.














Sem afeto
deu a parede, fez-se o teto
algo amou algo.
Sem razão
deu o pé ao chão, e a sua mão à mão
e a dor do medo cria o tempo
que brilha longe, o Sol
do qual eu me esquento.
Agora sem tempo
fortaleceu a parede, esticou o teto
Com emoção
deu o pé ao vento, com a mão na mão
e a certeza do que sou, cria o que penso
que sinto perto teu calor
do qual me sustento.

quarta-feira, 18 de março de 2009

De dentro pra fora.
















Uns tem muito
não sei se poucos
ou se muitos
mas sem dúvida
muitos também tem pouco

Cria-se do nada
só achamos que tem
e sem pensar muito
chamamos de mundo,
um certo alguém

Talvez em algum lugar
chamem de relativo
e assim destroem hoje
o que no coração, está ativo

Não se quantifica
não se faz força
nem se quer explica
que o que dura, definitivamente
tem que estar no coração,na mente
no carinho da mão,
no sorriso do dente

Desse, não se dá o que se tem
atribui-se aos demais
assim definimos alguém
pode se ter mais, muito mais
ou ser nada, para ninguém

Só então,
quando se vai do nosso redor
existido apenas dentro de nós(apenas)
atado com nó
amarrado pra sempre
até ser pó, cegando os olhos
os olhos da gente

Não deixe ir
o que hoje,
te separa os lábios
fazendo sorrir
mande ficar
pois meus lábios também sorriem
por poder te beijar

Ficar parado?
Aqui, do lado...
Pois todo enredo que se faz
só se mudam as letras
Já tentei me distrair
varri o quintal, arrumei as gavetas,
e sem ter aonde ir
fico parado, bem aqui,
do seu lado

Talvez o erro
seja a permanência
e o acerto, por sua vez,
a ausência. (Tolos acreditam nisso)
Meu erro é ter,
e esquecer que sou
Outro erro é ser
e esquecer de me lembrar
o que esqueço de ver
o que esqueço de me avisar.

Assim é o valor,
damos sem saber que temos
o dos outros lembramos
o de nós esquecemos.
Sofre a espera,
quem de valor é farto
e todo dia é véspera
pra quem tem vazio, o quarto.

E cada dia comum
toda tarde só
só cresce,
cresce esse nó
me prende sem me aprisionar
deixando-me livre, por sempre te amar
pois sentença real
é não poder lhe olhar
é ter meu lado vazio
como hoje está.

E quando estiver exausta
ao se deitar na cama
ou sentar na grama
acredite que ao invés de perder
ou no chão abandonar
para o valor conhecer, depois das mãos desatar
como essas rimas simples
fáceis de se entender
acompanham os olhos
de quem tenta ler
Veja que os mesmos olhos
também acompanham
verso curto,
outro breve, vivendo no Sol
esperando que neve.

O que fazer?
Fico aqui, parado
fingindo não te ter
só pra ser procurado.

terça-feira, 10 de março de 2009

Qualquer casa, meu café.
















Era um rio
tiraram-lhe as margens
agora, o rio é o mundo

Era uma janela
levaram a paisagem
agora,
só é janela
de dentro pra fora

Era, certo dia,
uma pedra
levaram-lhe tudo a volta
agora pedra,
é nome, revolta

Um dia
levantaram as mãos
e nada caiu do céu
"pedra na janela"
agora pedra de fora pra dentro
e janela,
só pensamento

Dia desses
pegaram uma maçã
e roubaram-lhe o ventre
na terra, atiraram suas sementes
da terra, sairam seus parentes
roubaram caju, manga e goiaba
da terra saiu caule, flor e beterraba

Ontem mesmo,
montaram uma porta
e a partir dela,
uma casa.
Só é porta pra saída
pois quem entra pela mesma
adentra a casa, que em volta da porta
foi construída

Hoje,
é dia de volta
volta o dia, volta a tarde
e acima das minhas pernas
mora minha cabeça
que embora ali esqueça,
vaga a esmo
e entra pela janela sem paisagem
da casa que levantaram ontem mesmo

Amanhã,
vão tomar o café
com gosto de saudade
a cada gole quente - uma lembrança sem idade
e assim se entende
que a saudade é um futuro
que mora no passado,
da mão dada, do café tomado.

Com força carreguei
o ontem pesado ao hoje,
quando acordei,
abri a janela, e a porta
escrevi a palavra "casa" na pedra
e a pedra, de casa chamei
lhe dei porta e janela
e uma paisagem plantei.

E amanhã,
vão sentir falta,
vão omitir, vão inventar,
mas saudade não é o tipo de nome
que se pode mudar.