quarta-feira, 3 de abril de 2013

Não há nada.




















Chamaram-nos dedos e palmas
e o conjunto, mão
que te correm, que te correm
pois não há nada mais

perdoa a demora
mas tomo teu anseio
te bebo com a mesma sede
enquanto entornas os olhos
sobre  meu corpo em descanço
pois não há nada

com uma certeza certa em si
e justa, no presente agora
aperto e deslizo
a carne e a pele que te envolvem
até que eu imprima no ar
o gestual de minhas mãos

e o que chamam dedos
vasculham com pisadas fortes
no talo das raízes de seus cabelos
e reunem-se meus lábios
para marcar teu pescoço morno
pois não há nada

Teus olhos olham depois da testa, eu vi
eu entorto, você enverga
nossas peles, perdi
descasquei todos os pecados
e agora nos fitam, nus

Te permeio agora
e te debruço
sobre algum anteparo desconhecido
invado e possuo
teu corpo excitado
teu prazer umedecido

Ordeno que levante
e te ofereças a mim
como quem se oferece
à um deus malevolente

Suor, carne
pernas e saliva
unhas, línguas e dente

e teu calor e prazer incitam
em meu corpo inconsciente
tropeço que antecede o mergulho
despejado em tuas costas, sou quente

te desfaço derretendo
contemplo afobado, enlouquecido
mas te preservo consistente
tua careta me arrepia a espinha
teu gemido abafa o ouvido

Te fito de cima
meu peso te castiga
meu prazer é o teu
ao ser invadida

pois não há nada

Somos uma só carne
no alto do teto
já não vejo meu corpo
nossa respiração junta, em desespero
começo a enxergar mesa e ladrilho, turvos
e passa a existir o universo inteiro.