quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Quiosquicina terápica.

















A lua cuspida
escorre a noite
tipo saliva

nossa ignorância
acerca dos oceanos
nos esconde o ocorrido:
o mar foi mijado

por um bêbado antigo
após beber sete bares
acometido
por incontrolável desejo
de criar vidas submarinas

agora trabalha no quiosque
do posto seis
e vende camarão
cerveja, picolé
e outros aperitivos

a chuva que incide na superfície
é alguém imitando lá de cima
mas ainda submerso não serei peixe
pra mim
qualquer quiosque
é oficina.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

O bonde.
















Minhas atuais vontades
marcham fora da maquinaria
com rodas de aro amassado: são marginais
não me prometem nenhuma rima
esquema ou estética

Minhas equações derretem
e descem o topo de qualquer euforia
no bar com cadeiras altas
e com o letreiro luminoso da cervejaria

Não permitem sequer
pincelar um registro
vontade é essa: um borrão
sou em tudo aquilo que existo

Minha dormência trepidou
para eu viver o enquanto
quem estava dentro acordou
esparramado - como chuva - na telha de amianto

Deixo que me acertem
as sucessivas avalanches

Minha vontade é como o bonde:
anda nas ruas até entortar
um tipo de bêbado errante
veio não sei de onde
parece nunca chegar

Entardeceu teu gesto
como uma noite capilar
deita nos ombros e esbarra no queixo
embrulha em bem-estar

Me lança ao alto
deferindo um golpe a distância
bamboleia minha vontade atrasada
no beco da consonância.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

O arrebol.



















Um corte de molho no álcool
causa uma espécie de ardor
o mesmo é o dia: rasgo no tempo
sinto banhar e lavar
quando assisto o sol se pôr

Enquanto corta o dia
sabe o céu que o sol é hemofílico
de olhos cerrados assisto a hemorragia
inundar o litoral
dessa pequena cúpula de acrílico

Entra ela sorrateira
e traz maré com ventania
enquanto o céu empurra abaixo o sol
a lua ajuda a afogar o dia

Sabe-se que sou etílico
quando me queima o quente arrebol
evaporo à noite em verborragia
ao notar o movimento acíclico
nas ondas do meu lençol.