A vida é autoexplicativa. Ela própria é a explicação de sua existência. Então, que vivam os vivos e que construam coisas! Aí vem a pergunta: "E agora, entendeu?". Ninguém entende. Então os vivos se reproduzem, muitas vezes em cima mesmo de coisas que eles construíram! Casas, tapetes, tábuas de madeira, camas, sofás. E então vem a pergunta de novo: "Entendeu?". Nada. "Entendi o que?". E qualquer tentativa é incompreensível. Então os vivos iniciam ondas de autoaniquilação. E ninguém acha nada. Uns levam a sério a própria bolhosidade efêmera diante a este nauseantemente colossal e gigantesco agora. Tudo é feito de um único e alucinante agora. É agora para todos os cantos. Essa é a explicação da vida. Ela já aconteceu agora. Tudo depois ou antes é rastro. O tempo é sensação involuntária e inerente a qualquer vida de sua repetida e ensurdecedora aparição nesse vasto único momento. É todo este barulho rompante de um abominável estalar de dedos. Um cavernoso bocejo com seu ápice de êxtase e sua caída ao sono. A vida pode ser insignificante, diante a sua desconsertante e titânica força em gritar com todas as suas partes, umas para as outras, da existência de outras explicações. Existem muitas. "E aí, pescou?". E o agora pode ser desligado a qualquer momento. Se toda a vida de agora se tornasse consciente de sua existência, seria como um suicídio sideral. Tudo seria cancelado. A vida depende de suas divergentes explicações, pois só é mantida com a sua estarrecedora capacidade de notar a si mesma. Dizem que se a vida, toda ela, deitada sobre este hoje, souber de si, de uma só vez, sumiríamos em pleno ar. Tudo voltaria a ser nada, para começar tudo novamente. Ou talvez seja o sonho de um cara. A vida é uma coisa que aconteceu e eu não lembro. A vida é uma descomunal e serena amnésia de seu próprio esplendorosamente e pavoroso urro de coisas. Abóboras, prédios, cadernetas, queijos, latas de verniz, paredes, chinelos, cheiros, ideias, lampejos. Notas soltas de uma harmonia enlouquecedoramente sutil. Dizem que quem ouve a musica se torna louco, por não conseguir compreender. E a musica fica repetindo junto com a vida, ate voltar a ser um zumbido de qualquer besouro entre as plantas. A vida é um susto: uns desmaiam, outros acordam.
Ao estudar uma porta, a chave feita para abri-la torna-se dispensável quando se tem um profundo conhecimento sobre a fechadura.
segunda-feira, 23 de junho de 2014
O brado.
A vida é autoexplicativa. Ela própria é a explicação de sua existência. Então, que vivam os vivos e que construam coisas! Aí vem a pergunta: "E agora, entendeu?". Ninguém entende. Então os vivos se reproduzem, muitas vezes em cima mesmo de coisas que eles construíram! Casas, tapetes, tábuas de madeira, camas, sofás. E então vem a pergunta de novo: "Entendeu?". Nada. "Entendi o que?". E qualquer tentativa é incompreensível. Então os vivos iniciam ondas de autoaniquilação. E ninguém acha nada. Uns levam a sério a própria bolhosidade efêmera diante a este nauseantemente colossal e gigantesco agora. Tudo é feito de um único e alucinante agora. É agora para todos os cantos. Essa é a explicação da vida. Ela já aconteceu agora. Tudo depois ou antes é rastro. O tempo é sensação involuntária e inerente a qualquer vida de sua repetida e ensurdecedora aparição nesse vasto único momento. É todo este barulho rompante de um abominável estalar de dedos. Um cavernoso bocejo com seu ápice de êxtase e sua caída ao sono. A vida pode ser insignificante, diante a sua desconsertante e titânica força em gritar com todas as suas partes, umas para as outras, da existência de outras explicações. Existem muitas. "E aí, pescou?". E o agora pode ser desligado a qualquer momento. Se toda a vida de agora se tornasse consciente de sua existência, seria como um suicídio sideral. Tudo seria cancelado. A vida depende de suas divergentes explicações, pois só é mantida com a sua estarrecedora capacidade de notar a si mesma. Dizem que se a vida, toda ela, deitada sobre este hoje, souber de si, de uma só vez, sumiríamos em pleno ar. Tudo voltaria a ser nada, para começar tudo novamente. Ou talvez seja o sonho de um cara. A vida é uma coisa que aconteceu e eu não lembro. A vida é uma descomunal e serena amnésia de seu próprio esplendorosamente e pavoroso urro de coisas. Abóboras, prédios, cadernetas, queijos, latas de verniz, paredes, chinelos, cheiros, ideias, lampejos. Notas soltas de uma harmonia enlouquecedoramente sutil. Dizem que quem ouve a musica se torna louco, por não conseguir compreender. E a musica fica repetindo junto com a vida, ate voltar a ser um zumbido de qualquer besouro entre as plantas. A vida é um susto: uns desmaiam, outros acordam.
segunda-feira, 9 de junho de 2014
Osmar.
Fora adotado
e acharam uma incongruência
insistiam com menino Osmar
que acabou por virar Osmares
osmares inundam a casa de alegria
em uma natação sem tempo
osmares brinda sua euforia
com seus braços de trapo ao vento
deixaram brincando no quintal
depois da barragem de areia
osmares sacodem,
levantam poeira
esperneiam os peixes
e serpentes marinhas
osmares cantam brisa
e em todas as coisas
que perduram pelos dias
a infância transborda
com mansidão e astúcia
- para o mundo sumir -
e estar cheio até a borda
sem essas paredes engraçadas
feitas de pelúcia.
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