Ao estudar uma porta, a chave feita para abri-la torna-se dispensável quando se tem um profundo conhecimento sobre a fechadura.
quarta-feira, 25 de novembro de 2009
O contador de sonhos.
João adorava estrelas. Passava madrugadas inteiras contando, apontando, contemplando, vibrando, em ver estrelas. Pegara a mania de seu pai, que por sua vez, pegara de seu avô. Era quase que uma tradição hereditária.
Certa vez foi na casa de seu avô, que morava no interior de uma cidadezinha, em um sítio muito agradável. Chegou lá já de tardinha. Tomou banho, arrumou as malas, jantou, e disse ao avô:
- tô aqui fora, vô! Vou aproveitar a noite limpa, e contar essas estrelas no céu.
E antes que pudesse chegar na varanda, foi interrompido pelo avô:
- contar o que, aonde? Não há céu, João.
Um silêncio pesou no ambiente, e foi seguido de um esboço leve de sorriso, vindo de João:
- essa foi boa! Então o que é isso aqui em cima?
Mas ao contrário dele, seu avô não sorria. Continuou sério.
- não há céu em cima, João. Não há embaixo. No mais, não há céu. Como estarão, as estrelas, contidas em algo que vai para depois delas? Dizer que há céu, é confinar um espaço vasto, à um pedaço de visão infinitamente pequeno: nossos olhos. E outra, João - continuou o avô:
- tenho dúvidas sobre a existência das estrelas. Acho que o que vemos delas, já se foi há muito tempo. Somos tão pequenos, que o mundo em volta se move, e só recebemos essa resposta eras depois. Enquanto contar estrelas no céu, nunca vai terminar. Apenas olhe para o céu, e contemple-as, sem querer quantifica-las. Do que adianta um milhão de estrelas, se vai contar uma de cada vez?
João, indignado, perguntou:
- então o que contei todos esses anos, senão estrelas?
E olhando para o nada, seu avô lhe respondeu:
- você, João, contara sonhos.
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