quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

A soma das divisões.




















Quanto chão que separa
quanto ar que se respira
quanta noite se dorme, só os olhos
pois dentro, é dia

Quantos lábios se separaram
no sorrir da ironia
e quantos se calam
na certeza mais fria

O copo, que de leve, queda
da pia escorregadia
se faz aos pedaços
nos ladrilhos, reluzentes ao dia
e de repente
o copo é lembrança, o copo é nada
não há copo, assim, de repente
reluzente ao dia

Mil anos de Sol, mil de Lua
se quebram no girar do mundo
e espatifam-se em horas e minutos
e cada dia é parte do "para sempre"
que um dia existiu junto
mas que se propaga e situa
na vontade de sarar
sarar essa dor, essa dor da noite
reluzente ao dia

O amor, que de repente, cresce
dentro de quem o tem
se faz maior, e coloca-se, de dentro para fora
transbordando-se, aparece por volta
e não mais dentro, queda
de quem o tem
e nos dias reluzentes, ou nas noites do "para sempre"
se faz aos pedaços, no chão de barro
e diferente das cerâmicas
que se anulam ao quedar
tem-se mais amor, ao dividir
o de quem o tem

A falta, que de repente, cresce
dentro de quem a tem
se faz maior, e poe-se, de dentro para fora
aparecendo ao redor
e ainda dentro, atira-se para fora
se multiplicando no chão, no ar que se respira
no dia que se vive, no lábio que separa, e no que cala
e preenche sem dó, quem deixou no chão de barro, e espatifado
aquele amor
que se propaga e se situa
na vontade de sarar, sarar essa dor
que já é o mundo, e girando
espatifa-se em horas
e sem fim, e "para sempre"
quanto mais se quebra
mais falta se sente

Então, separam-se os lábios, com ironia
e no sorriso - ainda que falso - reluzente ao dia
assimila-se o indesejável
mas triturar-se, é característico da falta
e como um mundo rodopiante
quebra-se por dentro "para sempre"
reluzente ao dia
assim, de repente
não há o nada, porque esse
a falta preenche
e se quebra cada vez mais
multiplicando-se e crescendo
dentro do ser, que já a tem por dentro.

Um comentário:

Karoline Freitas disse...

Esse está bem profundo, hein? Adorei o jogo de palavras que você fez. Você fez um tabuleiro, com os mesmos componentes, no entanto, colocando-os sob prismas diferentes no texto. Gosto disso, sabe. Agora comentando a temática do texto. Esse sem fim é toda a totalidade do ser. Acho que levamos tudo para nós mesmo, na tentativa de preenchermos todos os " nadas" que se fazem vítimas da nossa própria existência. Mas às vezes acho que somos vítimas do nada. Ele nos aprisiona nos momentos. E pensemos: Se a vida não é para sempre. Logo, nada é para sempre, mesmo se quisermos. Nada pra sempre fica. Fica a memória, o " relembrar" , e a dor para sarar... Entretanto, embora a vida seja curta e se faça sem sentido para todos nós, a gente deve ficar atento para não cair na tortura do " não-viver". Não amar porque vamos morrer; não comprar porque vamos morrer; Não viver porque vamos morrer... é isso... você é maravilhoso no que escreve. Admiro tudo.