Ao estudar uma porta, a chave feita para abri-la torna-se dispensável quando se tem um profundo conhecimento sobre a fechadura.
terça-feira, 28 de julho de 2009
A sentença.
Num minuto é água
Em outro, desce ligeiro
Num minuto é mágoa
Em outro, prova-se o tempero
Os livros abertos e jogados
no chão
na cama
no telhado
O mérito perdido
nas páginas dos capítulos
de cada livro
A pausa inalterada
do tempo no espaço
uma lâmina afiada
cortando o vento com o aço
O dado lançado
se pesa, é fardo
se perdura, sustenta-se
tal como um laço
Um dedo que mostra
apontando para cima
o vazio que há lá fora
é o mesmo que dentro, me domina
Um medo que frustra
cansado da sina
o jazido que há lá fora
é o mesmo que encontro na guilhotina.
quarta-feira, 22 de julho de 2009
A redenção.
As tropas estão posicionadas
capacetes, lanças e espadas
os soldados estão preparados
pais, filhos e bastardos
o chão já foi retirado
como um tapete de veludo
puxado dos pés do conde
o grito já foi expresso
da boca do filho do universo
E a batalha já tem início
de um lado os sãos
do outro, o hospício
de um lado, dão às mãos
do outro, correm o risco
Não há juiz, não há castigo
as faltas cometidas
citarão seu destino
não há fim, não há umbigo
todos nasceram do mesmo ventre
cada um será sucumbido
Aproximam-se velozmente
já é possível enxergar-se
na lâmina do inimigo
E os lados correm um ao outro
haverá então, um brinde comemorativo
Mas a vitória estará na taça erguida
ou no sacrifício do inimigo?
Já não há pensamento
a arma, agora, guia o guerreiro
logo será o momento
do cabalístico instante derradeiro
De um lado espadas
do outro, escudos
de um lado a lança
do outro, a esquiva
de um lado o ódio
do outro, a vida
Tudo será aqui
o sangue, o sabre e a lágrima
Tudo será aqui
avante e adiante,
até à lástima
Finalmente, então
espeta-se a arma no inimigo
não há som
não há glória
não há brilho
A vitória não será do pai
do bastardo,
e nem do filho
O universo está gotejando
dos olhos; do peito
está esgotando
no rasgo, no leito
A sobrevivência
não será daquele que mais matar
será, sim, o mérito
daquele que primeiro acordar.
quinta-feira, 9 de julho de 2009
A descoberta.
Descobri faz uns momentos
que é possível fugir
por uns tempos
Descobri ainda agora
que o mundo é maior
dentro de mim, do que lá fora
Descobri o nada
Vi a casa sem faixada
a gaiola sem grade
bahiana sem cocada
paróquia sem frade
Descobri o mundo
vi cegos, oriundos
vi gente, que vê
e não sente
Vi a não-visão
ausentando-me de agora mesmo
encontrei-me no vão
agora mesmo
chorei sem razão
enchi minha casa
de contos a esmo
Sem quem contar
contei meus contos
pra mim mesmo
sem porque chorar
chorei no conto
no canto
e no esmo
Descobri na madrugada
chuva, luz, e martelada
o que descobri mesmo, foi o nada.
A não-existência.
Todos os dias
se tornam um
mas eu vivo todos
e sou um
Cheguei a pensar que tem um espelho
no meio desse lugar
bem no meio
e tanto faz, um lado
ou outro
se espelha no espelho
e me deixa solto
solto, dentro do espelho
espelhado, perdido
no começo do semêio
Sem frente, sem passado
esse é o futuro do espelho, do espelhado
mostra agora, o que vejo no centro
lá, no guarda-roupa
tem uma cadeira onde sento
na minha cama
uns travesseiros, uma água
só não tem
mão que afaga
e no começo do quarto
é o fim da sala
disso, estou farto
fico na soleira do quarto
na quase-sala
com água
sapatos e mala
Fico na saída do quarto
sem água, espelho
sem fala.
Imortal.
As palavras caem
de nossas bocas
elas saem
sem destino, sem lugar
e ficam planando no alto
esperando que alguém as capture, ao respirar
Mas são só palavras
sem verdade, sem destino
só foram ditas, para servir de ensino
e quem tem caverna, dorme na pedra
quem tem pedra, constroi castelo
lá em cima estende uma bandeira
de verde, de preto, de amarelo
e no caminhar com o peito trincado
escorre a essência do ser animado
e congela o sangue, do cego criado
Existem escolhas
existem salas, quartos
existem folhas, que caem das árvores
em cima do gramado.
Existe um contador, que apita
em cada segundo, um baque fatal
o impacto me leva ao início
e a cada instante, sou imortal.
quarta-feira, 8 de julho de 2009
O desperto.
Certo dia, dois amigos conversavam sobre vários assuntos. Um deles, era mais velho, bem mais velho, tinha seus setenta anos. E o outro, seus vinte. Até que o mais velho lhe perguntou:
- onde estamos, amigo?
E este respondeu:
- ora, estamos aqui!
Então, o mais velho prosseguiu:
- me acompanhe, e vou lhe mostrar onde realmente estamos.
O outro, sem entender muito, o acompanhou. E após andar um pouco, o velho lhe fez a mesma pergunta:
- onde nós estamos, amigo?
E o mesmo lhe respondeu:
- ora, estamos aqui!
- É o que você percebe? - perguntou o mais velho.
- Sim, pois é o óbvio!
- Certo. Então diga para onde vamos - falou o mais velho.
- Hum. Vamos para lá - e apontou para onde tinham partido pela primeira vez. E sem dizer nada, voltaram o caminho. Após chegar no lugar desejado, o amigo mais velho lhe perguntou serenamente:
- Onde estamos?
E o jovem, respondeu sem pestanejar:
- Estamos aqui, amigo.
E o outro prosseguiu:
- Já percebeu, que estamos sempre indo "lá" para estar "aqui"? O "lá" existe apenas em sua mente, pois o que existe mesmo, é o "aqui", o "agora". Você sempre quer alcançar "lá", mas nunca o encosta, pois esteve "aqui" o tempo todo. O "lá" sempre será o futuro, ou o passado, pois, de fato, ou sempre vamos querer estar "lá", ou sempre partiremos de "lá". Só que, quando nos perguntamos onde estamos, veremos que sempre, sempre estaremos aqui. Por isso, nunca ande em vão. Ao invés de "estar indo para lá", perceba que, está "aqui", independente de onde esteja.
Após ouvir essas palavras, o jovem - subtamente - despertou, e percebeu que a maior caminhada que se pode fazer, não é a de "aqui pra lá", nem a de "lá pra cá", mas sim, a de todo instante, não importando o quanto se anda.
Depois desse dia, o jovem deixou de "ir" à vários lugares, pois percebeu que sempre esteve neles.
segunda-feira, 6 de julho de 2009
O manifesto.
Minha vida é um pote
que sempre vazio, convida o mundo
Minha vida é um corte
que saboreia o corpo e a alma; profundo
Minha vida é um segredo
um lápis
uma cor
Minha vida é um sonho, um suspiro
mais de um sabor
Hoje, amarga
Amanhã, salgada
Vezes, doce
Minha vida é um ponto
no alto, no cume, no ápice
É meu alcance
um asfalto, um fruto, um cálice
É a volta pra casa
Um manifesto, uma alteração
Um momento sim, e outro não
Minha vida é hoje
É uma confissão, progressão, intuição
É um lado, um teto
Um caco, uma quebra
Um lapso, um "agora"
Um movimento
um pensamento
Minha vida move, comove e remove
Estica, ataca, atinge
Eterno esboço
do morno cotidiano
sempre desenhando meu "existir"
ao passo que vou esquentando
Até dissolver em tudo e sumir
Minha vida, meu contorno
minha saga, meu ouro
Minha vida, meu retorno.
quarta-feira, 1 de julho de 2009
Desnexo.
A minha janela fica ao lado da porta
Visitas sofríveis dispenso aos flancos
Do lado de fora, estou me chamando
Atendo? Ou fico aqui, sonhando?
Questiono o impasse de pensar ou viver
Posiciono a mente no estar; no ser
E trafego por sobre minúcias
Minúcias desfoques de nexos sentidos
Que vagam no eterno
E encontram abrigo no vazio
De um cômodo sem portas ou janelas.
Gabriel Pereira e Anderson Ferreira.
Anderson Ferreira posta em: http://esbocofinal.blogspot.com
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