sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

A porta do estaleiro.



















Enquanto o sol esquenta
e o concreto inflama
descem importantes, os homens
a escada da estação Uruguaiana

atrás do blusão de linho
tilinta a camuflagem
dissipa o ar afobado
no andar apertadinho

enquanto minha mochila vazia
pesa quatrocentos e vinte navios
arrasto a âncora pela mista paisagem
e danço um tango ao som de sirene e buzina

porque são muitos universos:
no bar bebem,
comem e riem, espalhafatosos
outros caçam a janta com pelos
no boeiro da esquina

sem cerimônia
o ônibus parte
as pessoas falam - mas só falam
a vida parece prosseguir

quando todos estão indo
ainda que sem saber
nos mantêm vivos e em alarme, o belisco
de acordar sem doer

até que içam as velas
quatro centenas de navios (mais rápidos que a ideia)

no vão das pupilas dilatadas
unem-se todas as metades
me encaram fixos e sérios, os marujos
com seus olhares de fulminar verdades.

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