domingo, 26 de junho de 2011

O primogênito.















O primeiro mudo
calou-se por escolha
ao testemunhar a verdade

Seus descendentes agora
têm o vigésimo primeiro cromossomo
emudecido e mestrado - a lei de suas cordas vocais

O quadragésimo quinto cego
tapou-se por opção
ao enxergar a verdade

Agora - então - vivemos a verdade sob julgamento:
vista pelo mudo
ouvida pelo cego
e santificada pelo tolo

Palavras, gestos
sons, prefrências
restos
vivemos uma verdade inventada.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Dançarinos da incoerência.




















A lua em "c" corta como foice
o céu duvidoso, em algazarras
meu semblante intacto feito "p"
de prostrado, no insano outono
aguarda, mas compõe hieme non
com gelo e estrelas, "equitat"
dignos dos sensatos sem dogma
egoístas, banhados em Almadén
brincaram no salão que foi-se
e foram embora em um só salto.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

O equivoco.


Quando o sistema é falho
o erro é terceirizado
a culpa, distribuida
o dinheiro, lavado
o sono, mal dormido
as horas, mal passadas
o testa-de-ferro, demolido
os juízes, extraviados
o ideal, vendido
o valor, comprado
o usuário, iludido
e o negócio, fechado:
a esperança amadurece
o ser humano não é
e a novidade está atrasada.

terça-feira, 3 de maio de 2011

A alteração.




















Em um estudo metódico
foi alimentar, sair de casa
trabalhar e viver entre cada instante desses - e até agora
sem motivos comprar uma cerveja cara no posto nada conveniente
em cima da Avenida das Américas
que passavam carros laminados
cortando o ar sem por quê
que peguei uma carona
e parei na Dias da Cruz
onde passei sem fome pela padaria
e estacionei eufórico entre meus semelhantes
para misturar vinho vodka e cerveja, um pouco de cada
dentro do mesmo estômago
e antingir níveis indecifráveis de consciência
sem qualquer contagem progressiva
inventar dialetos indizíveis
e depois expulsar tudo em forma de desespero
para tornar possível o entendimento
e ver o que a mente fez com meu corpo - eterna marionete do viver.

domingo, 1 de maio de 2011

Atropelamento retilíneo puntiforme.

Palavras pesadas











Comecei acordando,
e já na hora de sair,
fui correndo, aos poucos, e com pressa
com sono, com muita vírgula, com controle
cheguei no ponto, que era do ônibus
e fiz sinal, com a mão
que, sem querer, pro alto apontou
foi quando vi um traço rápido,
um corte na estampa atmosférica,
e não sei o que é, até agora,
mas acho que aprendi, se me permite explicar
e deixei de lado as vírgulas
tanto que só uso algumas
até quando não precisa: ,
sendo assim e tão rápido
aprendi controladamente a perder o controle
e sair correndo pro ponto do ônibus e trem das sete
para o táxi de qualquer minuto e a barca do cais
para a corrida para o abraço girante que não para
gira no giro da virada na esquina
e o abraço no fim é despedida
agora minhas vírgulas na gaveta
pegam poeira e estão usadas
velhas retorcidas
amareladas
para até que em fim e exausto
meu ponto final tenha sentido.
e que seja humilde e reconheça
a avalanche progressiva
de mil e tantos caracteres alucinados e tropeçantes
trotando como loucos sem estribeiras
para a historia inebriante
que existe no ponto de partida

sábado, 30 de abril de 2011

Um lapso de resumo: o simples.
















Escrever não cansa
o que cansa é procurar
muitos temas, muitos temas
nenhum sobre o qual queira falar
até que veio a idéia
dentro de um copo com café
empurrava a fumaça - que não entendeu nada
rumo ao teto ocre de uma cozinha pequena
enquando eu olhava hipnotizado
o ladrilho ao lado da geladeira:
o ladrilho era um
eu, café, fumaça, três
o ladrilho era um
e nele vi a cozinha inteira.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Análise da eternidade - um ensaio sobre a abstração.

Pensando Alto


















Entendo por ser humano, o ser que é construído de forma ritmica e aleatória, originário de movimentações caóticas de diferentes dimensões - dentro e fora do tempo - e que tem como principal característica, conectar o universo com o mundo que construiu, utilizando a mente que, por sua vez, expressa em forma de sentimentos tudo aquilo que foi criado na conexão instantânea do corpo com o universo que o cerca, embarcado na consciência.
Seres humanos vivem em grupos e compartilham informações e sentimentos uns com os outros.No compatilhar de informações e sentimentos, o próprio homem criou - com fundamentos deduzidos por ele mesmo - regras, protocolos que padronizam a existência social, dita como a intensa relação entre cada indivíduo com todos os outros, e com ele próprio. Todavia, a construção de regras é, ao mesmo tempo, a criação de exceções. A gênesis daquilo que é construido pelo homem tem essa característica intrinseca de nunca ser absoluto. O padrão, o original, o objeto real, o foco, vem sempre acompanhado de seu inseparavel e inevitavel segundo valor - o complemento. O complemento é a expressão do universo, tremendo resquício da ação com que a natureza (o correr natural dos fatos) age sobre o que nasce dentro dela. Assim como a água transborda de um recipiente onde algo mais é inserido, a relatividade é a resposta do universo para cada pergunta que formulamos, cada objeto que criamos, cada estudo que idealizamos. O excesso, o transbordado,a outra parte da natureza, fica subentendida entre o nada, perdida no tempo. O ser humano tem como a mais divina obra, resgatar a expressão da natureza em relação às nossas criações, à nossa existência, e encaixa-las com a pequena realidade de nossos mundos, nosso entendimento. Existem pequenos encaixes, onde é possível ter um entendimento abrangente e momentâneo,pequenas epifanias, que podem ser alcançadas no cotidiano.E existe "O encaixe",que é a emancipação total e irreversível da mente, onde ela atinge o tamanho do infinito, e funde-se com o universo, jamais criando o individuo novamente. Nesse estágio de ser humano,o entendimento é de que não somos mais um caminho entre ser e universo, mas sim, somos o proprio universo. O homem deixa de ser conexão, e passa a ser ação. E assim - um dia - dançaremos conforme o vento que sopra entre as estrelas.
Com tudo dito até então, a criação, do modo mais genérico, é uma marcação, um tópico, um limite. A mesma epifania que cria o limite, a regra para padronizar e otimizar as complicações entre as relações humanas, é a epifania que tranca o homem dentro das fronteiras criadas - subliminar e consequentemente - por essas regras. E se o homem não dirige seus olhos para fora, é trancado pelo próprio calabouço. Esse é um exemplo pequeno, mas funcional, de que a maior parte - se não todos - dos problemas na sociedade, é criada pelo próprio ser humano. A evolução do ser humano está no caminho abstrato de transformar a conexão em ação.
Todo caminho a ser percorrido, assim deve ser feito com afinco e perseverança. E para provar mais uma vez a não absolutividade das coisas, a natureza se expressa com seu complemento: para ser o universo - através da mente - é necessário abandonar o corpo, mesmo que por instantes. Para viver o todo, deve-se começar por partes. Quando o homem mergulha inteiro em sua mente, recebe de outros seres que compartilham relações, titulos derivados do não cumprimento dos padrões e regras sociais. Erroneamente, o homem introspectivo, em profundo exercicio de ação, pode ser confundido como egoísta. E que seja egoísta, ao menos nesse ponto.
Hei de ser perdoado, pois qualquer ser que comporte galáxias em sua mente, será absolvido de intenções egoístas. Viajo trilhões de anos-luz daqui, rumo à visão privilegiada do todo. Quando ultrapassar as fronteiras que separam mente e ação - no seu sentido mais intrinseco - é certo que retornarei ao meu corpo, para expressar através de nossas pequenas palavras o quão imenso é o universo, e o quão desconfortável é ter a mente menor que Ele. Quando o universo todo - para além das galáxias e do tempo - couber em minha consciência, a criação de planetas fará meus olhos piscarem; a fornalha das estrelas queimará meu coração e ferverá meu sangue; e todos os sons terão todas as cores; e eu serei a ação; e eu serei a dança; e eu não terei mais perguntas; e o céu será meu chão. Enquanto isso, caminho com a mente de portas abertas, como um solo fértil sujeito a germinar qualquer semente que nele caia. É imensurável o ato de ser, imensurável ser o que sou. Agora encerro dizendo que carrego um pequeno motor entre os pensamentos. Um motor com algumas galáxias que - de fato - vivem em mim. Em mim o universo expressa o que quer dizer sobre ele mesmo. Sou um diálogo metafisico ambulante. E no fim, toda a nossa inteligencia torna-se risível. É tempo de ser humano.